O disco foi produzido por Cesar Lemos (com discos premiados pela BMI e ASCAP, nos EUA), gravado e mixado em Miami, Estados Unidos, no lendário estúdio Hit Factory (Criteria) e Rebel 11. O conceito da obra gravita em torno de uma releitura latino americana de uma porção do repertório da música brasileira. “Sebastiana” foi gravado por músicos brasileiros, norte-americanos, cubanos, argentinos, venezuelanos, colombianos e peruanos. Por meio de uma pesquisa de ritmos tradicionais foi gestado laboratório de arranjos para efetivar a fusão de elementos da música latino americana com a música brasileira. Traz arranjos contemporâneos e um forte acento jazzístico, com uma percussão sutil que afirma a influência da América do Sul.
O resultado é inusitado e apresenta uma importante contribuição para o cenário da música brasileira no contexto internacional. É um disco instrumental, com quatro faixas cantadas. No Brasil, é distribuído pela gravadora Tratore. Na América Latina, Japão, Europa e Estados Unidos a promoção e distribuição física está a cargo de diversos parceiros, disponível nas plataformas digitais, em CD e vinil. O título “Sebastiana” faz homenagem a Jackson do Pandeiro, no ano que completa 35 anos de sua partida, com a inserção de trechos de sua voz em duas faixas. A capa e elementos da ilustração gráfica trazem a reprodução da obra “Carnaval”, pintura a óleo do modernista brasileiro Emiliano di Cavalcanti.
O trabalho conta com cinco músicas inéditas, em um conjunto de quinze gravações. Duas delas, Ricardo compôs com Cesar (“Suco Verde” e “Sernambetiba”, 1992). O disco “Sebastiana” apresenta obras de Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Lô Borges, Villa-Lobos, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Ivan Lins e Victor Martins, Flora Purim e Luiz Roberto Bertrami. Ricardo Bacelar escreveu os arranjos e efetuou as programações com Cesar Lemos, gravou o piano acústico, órgão Hammond, sintetizadores e cantou a faixa “Oh Mana Deixa eu Ir.” Buscou expoentes da música latina, em Miami, para a gravação do disco: Cesar Lemos (baixos, guitarras e vocais), Anderson Quintero (Venezuela) na bateria e percussão, Maye Osorio (EUA) no vocal em “Nothing Will Be As it Was”, Elena Rose (Venezuela) cantando “Somewhere in the Hills”, Rose Max e Ramatis Moraes (Brasil) nos vocais de “Sambadouro”, Steve Hinson (EUA) no steel guitar, Yoel del Sol (Cuba) na percussão, Channo Tierra (Colômbia) no acordeón diatónico em “A Volta da Asa Branca”, Jose Sibaja (Colômbia) trumpete e flugelhorn em “Vento de Maio” e “Partido Alto”, Jesus “el viejo” Rodriguez (Peru) percussão e charango em “Vento de Maio”, Gabriel Fernandez (Argentina) tocando Bandoneón em “Depois dos Temporais” e filhas de Ricardo, Maria e Sara Bacelar, na percussão.
Sebastiana é uma síntese Latino Americana do Brasil. Texturas rítmicas e timbres característicos foram submetidos à malemolência das estruturas harmônicas da música brasileira, até então carente de uma visita de seus irmãos mais próximos. O disco traz um ritmo venezuelano denominado “Sangueo”, interpretado com tambores de cumaco e mina, provenientes da porção central daquele país, evidenciando influências de ritmos africanos. Implementou uma mescla com o “Coco” da composição “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti (1915-1968). Célebre representante da música do nordeste brasileiro, a música “Sebastiana” dá nome ao disco. A obra fez muito sucesso no Brasil na voz de Jackson do Pandeiro (1919-1982) e foi gravada, originalmente, em 1953. Jackson do Pandeiro, grande artista brasileiro, partiu há 35 anos. Outro ritmo visitado é o “Vallenato”, proveniente da costa colombiana. Denominado por alguns como gênero musical ancestral da antiga província de Padila, com registros da colonização espanhola e dos escravos afro-colombianos, o “Vallenato” espraiou-se pelo Equador, Panamá, Venezuela, Argentina, México e Paraguai. Tradicionalmente, interpreta-se utilizando o acordeon diatônico, a guacharaca e a caja vallenata. O “Vallenato”, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial da humanidade pela UNESCO, é incorporado, no disco, ao baião brasileiro “A Volta da Asa Branca”, de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Zé Dantas (1921-1962). O Rei do Baião, Luiz Gonzaga, imprimiu uma marca forte na música brasileira. Os ritmos latinos são colocados sutilmente, como temperos, na concepção dos arranjos. A “Bomba” é um gênero musical de Porto Rico, trazido por escravos que chegaram das Antilhas, provenientes da costa oeste africana. É executado com tambores feitos de barris que armazenavam couro de cabra, ajustados por torniquetes, parafusos e cunhas.
Outro elemento utilizado é a “Timba”, ritmo oriundo de Cuba. É um termo de origem africana, derivado do “Tambor”, com registro histórico datado da chegada dos escravos na América Central. Nas orquestras cubanas, invocavam a “Timba” para incitar os músicos a “subir a temperatura” do tema e energizar o público. No universo dos complexos molhos rítmicos cubanos, inclusive no ambiente da “Salsa Cubana”, a “Timba” foi objeto de fusão com o jazz e faz parte da música popular daquele país. Utiliza instrumentos de percussão latina, como pailas, congas e güiro, bem como coreografias características. O “Charango” ou quirquincho (na língua do povo andino Quíchua, kirkinchu), colocado na música “Vento de Maio”, de Telo Borges e Márcio Borges, é um instrumento de cordas da família do alaúde. Oriundo da Bolívia, é confeccionado, originariamente, com a carapaça das costas do tatu. Há registros de que os espanhóis, no século XVI, proibiam os nativos bolivianos de praticar sua música ancestral. O “Charango” foi um instrumento idealizado para ser escondido sob as vestes, medindo, em média, 66 centímetros e construído com dez cordas. É representante da “Música Andina”, caracterizada pelas melodias nostálgicas e evocativas com texturas das flautas de caña. Na música “Depois dos Temporais”, de Ivan Lins e Vitor Martins, utilizamos o “Bandoneón”, principal integrante da orquestra de “Tango”. O gênero foi instituído como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO. O “Bandoneón” foi declarado Patrimônio Cultural da Argentina, por lei. Parente próximo da concertina, também é utilizado na região do Rio da Prata e Uruguai. Produz o som a partir da vibração de palhetas de aço, impulsionadas pelo deslocamento do ar no fole. O “Bandoneón” foi criado na Alemanha, para ser utilizado como um órgão portátil nas manifestações religiosas, mas se difundiu como protagonista do “Tango”, na Argentina.
Em junho de 2017, Ricardo gravou com o Hanoi Hanoi, banda da qual foi integrante, o DVD ao vivo “Hanoi 30 anos”, com a participação de Samuel Rosa, do Skank, que será lançado em 2018. Durante sua carreira com o Hanoi Hanoi, em 11 anos, tocaram em quase 1.500 concertos, em uma época que Ricardo dividia os palcos com os estúdios, produzindo discos, trilhas para cinema, tv e publicidade. O primeiro disco solo de Ricardo Bacelar ,“In natura”, é intimista e conta com as participações de Belchior, Frejat e do Hanoi Hanoi. Ricardo é um dos poucos parceiros de Belchior e foi o diretor musical do seu álbum Vício Elegante, gravado em 1996, cuja música título do disco é uma parceria dos dois, sendo a última composição inédita gravada por Belchior. O segundo disco de Ricardo Bacelar, “Concerto para Moviola”, é um disco ao vivo, gravado em um festival de jazz, com uma banda de oito integrantes, tocando jazz fusion e música brasileira. Foi lançado em 2016 no Brasil e Estados Unidos, em CD, DVD e vinil, conseguindo uma expressiva execução nas rádios americanas de jazz, com diversas críticas em importantes veículos na imprensa americana do segmento.
REPERTÓRIO – SEBASTIANA
1. A Volta da Asa Branca – Luiz Gonzaga e Zé Dantas
2. Suco Verde – Ricardo Bacelar e Cesar Lemos
3. Nothing Will Be As it Was – Milton Nascimento, Ronaldo Bastos e Renee Vincent
4. River of Emotions – Ricardo Bacelar
5. Toda Menina Baiana – Gilberto Gil
6. Somewhere in the Hills – Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Ray Gilbert
7. Partido Alto – Flora Purim, Alex Malheiros e José Roberto Bertrami
8. Parts of Me – Ricardo Bacelar
9. Sambadouro – Ivan Lins e Vitor Martins
10. Oh Mana Deixa Eu Ir (Caicó Cantiga) – Heitor Villa-Lobos, Milton Nascimento e Teca Calazans
11. Sebastiana – Rosil Cacalcanti
12. Depois dos Temporais – Ivan Lins e Vitor Martins
13. Vento de Maio – Telo Borges e Márcio Borges
14. Sernambetiba, 1992 – Ricardo Bacelar e Cesar Lemos
15. The Best Years – Ricardo Bacelar